ROMETE E JULIEU (ROMEU E JULIETA ÀS AVESSAS)

Senhor, o que queres de mim?

Traga-me um bálsamo
para curar minha dor.

Senhor, aceite este corpo
sem medo de amar
vem embriagar-se em meu seio
e cheio de desejo
vamos voar!

Voar para onde, minha pomba?
Parece-me ainda tão criança
e, seria infame amar-te
minha doce menina.

Estás doente de amor
não há outro bálsamo
para sua dor
que não seja, do meu corpo, o calor.

Tua pureza alegra-me
renova minha alma
menina ainda que és...
tua pele apessegada
teu cheiro de manhã
teu olhar brilho de sol...

Senhor! Que queres, então?
Pediste-me um bálsamo;
o que posso eu trazer?

Cara minha, ver-te já cura-me!

Senhor, meu senhor, não afaste-se de mim!

Não devo contagiar-te
com minha doentia paixão
tua imagem tão pueril
necessita ser preservada.

Posso ser o teu bálsamo!
Dou-te metade de minha pureza
e outra metade de minha vida.
Assim, serás jovem outra vez!

Não, doce menina! Não posso aceitar.
Já vejo-me na lúgubre caminhada
rumo à escuridão
ouço ao longe a pomba bater sua asas...
Vem buscar-me?

Meu senhor, não ouves pomba alguma
o que ouves é meu coração
ansioso por salvar-te.
Venha, meu senhor, deite-se em meu colo!

Não toque-me!
Serei capaz de tornar-me gelo
iceberg de amor...
não sou digno de ti,
és ainda tão criança...

Não, meu senhor! Não sou tão jovem assim.
Já fui Helena de Tróia
de pedra bruta tornei-me joia
Já fui Poseidon, deus do mar
Tornei-me sereia
Fui coral,tornei-me areia.
Do pó fui formada para ser tua senhora.
Divida comigo tua dor.

Ouço a pureza de tuas palavras
não posso morrer de amor.
Traga-me um bálsamo para curar minha dor!
Aquele farfalhar da pomba
que imaginei vir buscar-me
dissera ser teu coração...
Já confundo com o meu!

Senhor, que tanto chamaste-me,
eis que estou aqui!

Saia daqui,ó morte insana!
Estarei com ele na cama
de amor não morrerá.

Não preocupe-te, minha jovem!
Deixe-me ir com essa pomba
Ao céu logo chegarei
ou, quem sabe ao inferno?
Mesmo ali descansarei.

Vamos! Não percamos tempo
tenho que socorrer
outro que não quer mais viver.

Meu senhor, meu senhor!
Abra os olhos
veja-me como sou
não sou tão criança como dizes
sou mulher
sou teu amor.

Não dê ouvidos a ela!
Vim das profundezas até aqui
Vou levar-te, não tem jeito
sozinha não vou sair.

Não a ouça, meu senhor!
Sou tua cura
segure minha mão
dou-te metade de mim
acaso não quiser-me inteira.
Nessa caminhada serei tua companheira
se fores com ela, também irei.

Não, minha criança, ainda és tão jovem!
Morro agora, livre ficarás.

Meu senhor, não digas coisas
que causam-me dor tão atroz.
Ouça meu coração!
Ouça minha voz!

Vou beber o cálice amargo
e dar adeus a esta vida!

Irei eu também!
Se queres salvar a mim,
salva-te a ti mesmo!

Não posso deixar que vá
Porém, aqui não posso ficar.
Amar-te não poderia,
és tão jovem ainda...

Não podes cometer tal ato; suicídio é covardia!
Sejas corajoso!

É preciso muita coragem
para tal ato, minha criança.

Não é o que parece-me.
Perdoe minha impertinência, meu senhor,
Mas estás contradizendo-se.

O que queres dizer com isso?

Meu senhor, meu senhor,
se tens coragem para matar-se,
por que falta-lhe coragem para amar?
Se fores, vou também!
E não fala-se mais no assunto.

Não digas isto, minha pequena!
Ouço a lira ao longe
não posso deixar que vá...
somente eu, que sou covarde.
Ouça meu coração, bate igual ao teu.

Meu senhor, meu senhor!
Se teu coração bate igual ao meu,
é amor! É amor!

Vá embora pomba da morte!
Já não a quero mais.
Preciso viver meu sonho
tornar-me jovem outra vez.
Vá buscar outro infeliz
que precise mais de ti
Meu sangue quente nas veias
tornou a fervilhar
fervilha de amor.
Amor, doce amor,
minha pobre alma
foste capaz de curar.

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