VIDA NO SERTÃO

         Sertanejo é homem forte que sobrevive as secas de maneira heróica, ou talvez, por milagre. Para quem acredita em milagres e gosta de explicar o inexplicável através do fenômeno, a vida do sertanejo é um prato cheio.
         Divino da Silva é um dos que sobrevive. Não se sabe se por teimosia ou por milagre, o certo é que teima em viver e consegue. Há oito meses não chove no sertão onde mora. Seus filhos saíram de casa, foram procurar trabalho em fazendas na região sudeste e nunca mais deram notícias, sua mulher não suportou a fome e foi conversar com São Pedro. Divino costuma dizer que “ela foi lá no céu pedir pra chover”.
         Sozinho, ele luta com as cabritinhas que tem, anda com elas pra ver se encontra comida e quando acha um pé de mandacaru, divide a refeição com elas, suas únicas companheiras.
         Em casa, Divino ainda tem um pouco de feijão e farinha, o que considera um luxo. Outro dia em suas andanças teve a sorte de encontrar uma jibóia andando de modo desorientado pela caatinga, não perdeu tempo. Arrancou as últimas forças que tinha e com um porrete que carregava rachou a cabeça da bicha. Não era uma cobra muito grande, na verdade era um filhote. Divino deu graças a Deus por ter posto a danada em seu caminho, nesse dia ele fartou-se, comeu-a assada na brasa e, com farinha, ficou uma gostosura.
         Mas teve um dia em que o corajoso sertanejo ficou triste, ao acordar não viu suas cabras. Saiu pelo terreiro chamando por elas, caminhou até onde elas deveriam estar dormindo e elas não estavam lá. Andou em direção ao pequeno açude que também agonizava com a seca, de longe viu um bando de urubus disputando algumas tripas, chegou perto e constatou, muito tristemente, que as cabritinhas haviam sido mortas por alguém que, como ele, deveria estar com muita fome. “O perverso não deixou nem o couro das bichinhas!” Sem suas únicas companheiras, Malhada e Pretinha, o pobre homem desmoronou. Caiu numa tristeza profunda, “a crueldade das pessoas era maior que seca”.
         Desanimado e muito abatido entrou em casa decidido a dar cabo de sua vida. Arrumou uma corda e amarrou-a numa árvore. Preparando-se para o desfecho de seu descanso, tão triste estava não percebeu que o céu ficara nublado, quando ia amarrar a corda em seu pescoço, a chuva desabou, molhando seu rosto, despertando-o para a vida novamente. Então começou a gritar festejando a chegada da tão esperada chuva.    
         Endoidecido, gritava o nome da esposa falecida perguntando se havia chegado ao céu. A chuva não deu trégua, choveu durante uma semana e o depois disso Divino começou a plantar milho, macaxeira, jerimum e alguns grãos do seu feijãozinho precioso. Sua esposa que esperasse, ele não iria para o céu tão cedo.   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DICIONÁRIO CAMPISTÊS - De Campos dos Goytacazes

MESTRA DE MIM MESMA

SER POETA