MEU AMIGO CÃO - Conto Infantil

          Era uma vez...
         Um menino muito triste que morava em um pequeno apartamento na cidade, não tinha muitos amigos, por isso era tão triste. Sua vida se resumia em ir para a escola de manhã, depois da escola tinha aulas de informática nas segundas, quartas e sextas; nas terças e quintas tinha aulas de inglês; aos sábados jogava vídeo game, e aos domingos ia almoçar na casa dos avós.
       Não fazia nenhum tipo de esporte, aos dez anos, ainda não sabia andar de bicicleta. Era um menino franzino, numa tarde, Daniel teve que voltar sozinho pálido, de olhar tristonho, apesar de muito inteligente.Todos os moradores do prédio gostavam dele, era um menino muito educado, cumprimentava a todos com uma voz tão fraquinha que as pessoas quase não ouviam. Sua mãe ficava orgulhosa por ter um filho tão calminho e estudioso, não percebia a tristeza que abatia seu filho. Quando recebia elogios, seus olhos brilhavam e, afagava a cabecinha do pobre Daniel, dizendo: “Você é o orgulho da mamãe!”
       Quando voltava da sua aula de inglês, pois sua mãe não pôde ir buscá-lo como de costume e seu pai estava viajando. Estava ele vindo para casa quando passou em frente a uma loja de animais e viu alguns filhotes que estavam à venda, a loja ficava bem próximo do seu prédio, mas ele nunca havia percebido nem imaginado que ali poderia ter tantos bichinhos lindos. Ficou parado na porta da loja como que hipnotizado pelos latidinhos dos filhotes, a dona da loja, uma moça muito simpática, convidou-o para entrar e olhar os cãezinhos mais de perto. Como não tinha o costume de andar sozinho e era muito tímido, agradeceu à moça e correu para casa.
       Foi direto para o quarto e fez um desenho do cachorrinho que tinha achado mais bonito, colou a folha na parede e ficou olhando sua obra de arte e imaginando como seria ter um amiguinho cão, poder brincar com ele no play, na praça, poder jogar a bola e o cãozinho trazer de volta... Pensando nessas coisas totalmente novas e interessantes, Daniel adormeceu, sonhou que corria no campo com seu cachorrinho, que jogava pedaços de galhos de árvore e o cãozinho esperto trazia de volta com uma rapidez incrível... Pela manhã, Daniel acordou diferente, estava até um pouquinho mais corado, seu rostinho triste havia dado lugar a uma carinha de criança saudável e feliz. Disse um bom dia tão alegre à sua mãe que ela quase engasgou com o leite que tomava.
        — Bom dia, meu filho! — Respondeu ela intrigada.
        Daniel sentou-se à mesa procurando um jeito de falar com a mãe sobre o cachorrinho que havia conhecido, sabia que ela não gostava de bichos, mas ele queria tanto... Então criou coragem e disse:
        Mãe, será que eu poderia comprar um amigo?
        Amigo?! Amigo, não se compra, meu filho; amigo se conquista.
        Esse é um amigo diferente e...  Daniel fez uma pausa. — E, ele já me conquistou. Mãe, ele é muito fofinho. Por favor, eu posso comprar um filhote?
        Um... o quê? — perguntou a mãe.
        Um filhote, mãe. Um cachorrinho.             Ontem, quando eu vinha para casa vi aquela loja de animais que tem aqui perto, vi um cachorrinho lá e ele olhou pra mim com uns olhinhos tão meigos, acho que eu também o conquistei. — disse a última frase já com lágrimas nos olhos e abaixou a cabeça, voltando a ser o menino triste de sempre.
     Não, não e não. Daniel você tem muita coisa para fazer. E, além do mais, um cachorro dá muito trabalho, tem que dar vacinas, banhos, comidas e, ainda tem, xixi, cocô... Eu acho melhor, não. — concluiu ela, descartando qualquer possibilidade do menino insistir no assunto.
         Daniel foi para a escola com o coraçãozinho apertado, a idéia havia lhe agradado tanto.”Por que sua mãe não o compreendia? Será que ela nunca foi criança? Nunca quis ter um cachorrinho?” Desceu do ônibus escolar secando as lágrimas que teimavam em molhar seus tristes olhinhos azuis, não queria que ninguém o visse chorando. Durante a aula só conseguia pensar no cãozinho. “E, se alguém fosse até à loja e comprasse justamente aquele que ele havia gostado mais?” Essa foi a pergunta que habitou sua mente durante toda manhã. Ao voltar para casa, correu até em frente à loja e pôde ver seu amiguinho, “ainda estava lá!” Então, criou coragem e entrou, caminhou em direção à gaiola onde estavam os filhotes e ficou ali parado, sem saber o que fazer.
              Bom dia, meu rapaz! Veio escolher seu amiguinho, hoje? — perguntou-lhe a moça simpática da loja.
              N não! Estou só olhando. — murmurou ele, assustado.
              Se precisar, é só me chamar.
           Dizendo isso, a moça se retirou deixando o menino tímido mais à vontade. Os filhotes faziam festa para ele, convidando-o para a brincadeira, aos poucos, ele foi chegando mais perto, até que pôde tocar no pêlo macio do tão desejado amigo. Foi um momento mágico, como se o tempo parasse, foi a sensação mais incrível que ele havia sentido até então. Acariciou seu amiguinho e despediu-se dele dizendo que voltaria no outro dia e foi para casa.
         Sua mãe já havia chegado para almoçar também e estranhou a demora do filho, pois o ônibus da escola nunca atrasava. Daniel entrou em casa nervoso, assustado, como se tivesse cometido um crime grave, seu rosto estava vermelho e seus olhos brilhavam, seu coração batia acelerado, seu corpo todo estremeceu quando ouviu sua mãe perguntando:
         O que aconteceu, Dani? Fiquei preocupada.
         Nada mamãe, é que quando desci do ônibus, fui dar uma olhadinha no filhote, me desculpe. — dizendo isso, correu para o quarto, guardou o material, tomou um banho rápido e foi almoçar.
     Sua mãe estava esperando-o, durante o almoço conversaram sobre seu atraso, sua mãe disse-lhe que ele já estava ficando um rapazinho e que logo esqueceria aquela história de filhote, Daniel apenas concordava meneando a cabeça.
     Durante toda a semana desobedeceu às ordens da mãe e passou na loja para ver seu amiguinho, quando ela descobriu ficou muito zangada e o pôs de castigo. Daniel passava em frente à loja e, pela janela do ônibus via, de relance, o cãozinho que tanto desejava comprar.
     Na quinta-feira chegou em casa com o olhar mais triste do mundo, estava sentindo um frio enorme, desanimado, deitou-se e dormiu; sua mãe veio chamá-lo para almoçar e levou um susto quando o viu dormindo ainda de uniforme, correu para ele e viu que estava com febre, pôs o termômetro para verificar a temperatura e constatou, já nervosa, que a temperatura de seu filho estava em quarenta e um graus, deu-lhe um remedinho e um banho, a febre cedeu, mas depois de algum tempo voltou. Naquela tarde sua mãe não retornou ao trabalho, foi ao pediatra para ver se ele descobria o motivo da febre, pois ela não conseguiu ver nada, a garganta estava bem, não estava resfriado, nem tinha dor de barriga... Nada que pudesse justificar aquela febre.
       O médico, seu velho conhecido, parecia conhecer Daniel melhor que a própria mãe, logo percebeu a tristeza do menino. Depois de conversar com a mãe e ouvi-la com atenção foi examinar o garoto, não encontrou nada errado, pediu alguns exames, mas disse, de antemão, que poderia ser uma febre de fundo emocional. A mãe disse que talvez fosse a falta do pai.
        Dr. Pedro pediu que esperassem até que os exames ficassem prontos para ter certeza, receitou um remédio para diminuir a febre e disse para a mãe levar o filho para passear e aproveitarem a tarde juntos. Então, ela seguiu o conselho do médico e foram ao zoológico, Daniel se divertiu muito olhando os animais, depois foram para casa e tiveram uma boa surpresa, seu pai havia chegado e trouxe vários presentes que comprou durante a viagem, Daniel adorou os presentes, mas nenhum era tão perfeito quanto o cachorrinho que ele queria tanto.
        Sua mãe ficou mais tranquila pensando que era só a falta do pai a causa da febre. Mas no outro dia, o pobrezinho estava ardendo em febre novamente e, assim, foi até no dia seguinte, quando voltaram ao médico, ele olhou os resultados e concluiu que o menino não tinha absolutamente nada então, disse:
          É, a febre é emocional mesmo. Mas o pai já voltou de viagem, o que poderia ter acontecido para deixá-lo abatido desse jeito? Diga-me Daniel, você quer conversar sobre o que está acontecendo com você? Não precisa, se não quiser...
           Eu e seu pai esperamos lá fora se...
           Não precisa, só estou triste por que eu queria aquele filhote, disse Daniel interrompendo a mãe.
          Que filhote é esse, meu filho? — perguntou o pai intrigado.
      Ah, meu Deus! É isso, então. É um filhote de cachorro que ele viu na loja e quis comprar e eu não deixei, mas isso foi há duas semanas, eu pensei que ele já tivesse esquecido.
      ― Bem doutor, esse é um assunto que, me parece, o senhor  não pode resolver. Disse o pai do menino sorrindo e dando uma piscadela para o médico. — Tenha um bom dia.
          Bom dia para vocês também, se precisarem é só ligar. Tchau,Dani.
       Daniel deu um tchau desanimado e saiu do consultório abraçado ao pai. Antes de irem para casa, seu pai sugeriu que passassem na loja para ver o tal filhote, Daniel não pôde conter a alegria, seus olhinhos brilharam, não perdeu tempo, deu um beijo no pai e outro na mãe dizendo, obrigado.
     Ao entrarem na loja ficaram surpresos com a amizade e intimidade com que Daniel se dirigiu à moça que veio atendê-los, ele havia ficado muito amigo dela naqueles dias em que visitava a loja.
      Onde está o cão? Você o vendeu? Perguntou o menino.
      A moça disse que havia deixado o cãozinho nos fundos da loja para que ninguém o comprasse e que só o venderia quando Daniel dissesse que não iria comprá-lo. O pai de Daniel disse a ela que poderia preparar o cãozinho para viagem, pois ele iria para casa com eles, a mãe concordou, não queria ver o filho doente. Daniel acompanhou a moça e, depois de alguns minutos, voltou com uma bolinha preta no colo, era um cãozinho apaixonante, sua mãe que não era muito chegada a animais, foi logo pegando o pequeno xodó do filho no colo, dizendo que era a coisinha mais linda que já tinha visto. E foram para casa felizes.
        Daniel aprendeu a cuidar do cãozinho e, todos dias brincavam no play ou na pracinha em frente ao prédio. Quando ia fazer as tarefas da escola, Duff, o cãozinho, ficava quietinho para não atrapalhar o amiguinho. Daniel nunca mais teve febre de tristeza, passava as horas de folga ensinando truques para seu amigo cão e, quando descia para brincar com ele, logo aparecem outras crianças para brincar com eles, Daniel e Duff agora tinham muitos amigos e eram felizes brincando juntos.   

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