BELINHA VAI À FESTA - conto infantil

           Belinha era uma barata muito curiosa, gostava de novidades e estava sempre bisbilhotando através das frestas para saber as notícias antes das outras. Num belo dia, estava passeando na cozinha quando ouviu a dona da casa dizer que haveria uma festa para comemorar seu aniversário, a baratinha ficou logo entusiasmada. Já pensava em que roupa vestir, se o sapato combinaria com a roupa, qual penteado iria usar, etc. Ficou tão distraída que não viu a vassoura chegando perto, tomou uma vassourada e ficou tonta, saiu correndo e, com muita sorte, conseguiu escapar com vida, mas infelizmente, quebrou uma perninha.
         Chegou em casa se arrastando, apoiada num palito de dentes que encontrou pelo caminho. Sua mãe veio depressa trazendo uma cadeirinha para que ela se sentasse e foi logo dando uma bronca na coitadinha. “Eu já avisei para não sair durante o dia, é perigoso, minha filha.” A mãe ia falando e Belinha nem ouvia, só pensava na festa.
         Sua mãe chamou o senhor Baratão que era o médico da família. Depois de examinar bem a perna da baratinha curiosa, resolveu enfaixá-la. Ela teria que ficar de repouso por uma semana, mas a festa seria no sábado e já era quarta-feira, como é que ela poderia ir à festa? Ela não sabia de que jeito iria, mas iria de qualquer jeito.
         Durante o resto da semana ficou de repouso, mas quando sua mãe saia ela aproveitava para escolher qual roupa iria usar, experimentou todas as roupas e sapatos que tinha, mas com aquela perna enfaixada nada ficava bonito. Ela ficou triste e pensou em desistir da festa, mas queria tanto ir...  E ficava ali deitada em sua cama olhando, desanimada, as paredes sem graça do seu quarto. Ela morava numa caixa de sapatos com a mãe, e quarenta e nove irmãos, seu quarto ficava num cantinho da caixa, sua cama era bem confortável, cheia de pedacinhos de isopor. Era uma caminha gostosa, muito macia e, no inverno, era bem quentinha.
         Belinha gostava da caminha, mas as paredes do quarto eram tristes assim sem pintura, ela nunca havia reparado nisso, mas de tanto ficar ali, num repouso forçado, já estava aborrecida com aquela cor marrom de papelão. Estava pensando em procurar algumas figuras ou uma tinta para alegrar aquelas paredes mortas.
         Finalmente, o sábado chegou trazendo com ele um cheirinho gostoso de festa, do seu quarto Belinha podia sentir as deliciosas fragrâncias que vinham da cozinha, sua boca salivava. Estava ansiosa para que a noite chegasse logo, por duas vezes teve o ímpeto de ir dar uma espiadinha na cozinha, mas por cautela achou melhor obedecer à mãe e esperar a noite chegar, seria mais seguro.
         A noite chegou e os convidados também, Belinha saltou da cama e, curiosa como era, desobedeceu a sua mãe e foi dar uma olhadinha nas guloseimas, entrou na cozinha arrastando a perninha enfaixada, subiu na pia e pôde ver sobre a mesa os docinhos que seriam servidos, com muita dificuldade, desceu da pia e foi tentar subir na mesa que não era muito alta, mas como ela estava com a perna quebrada, parecia ser uma montanha muito alta.
         Enquanto subia, percebeu que alguém ia entrando na cozinha, escondeu-se rapidamente e viu a dona da casa, a mesma que lhe dera a vassourada quebrando sua perninha, ela estava bem arrumada e parecia muito feliz, rodopiou perto da mesa e saiu levando os docinhos para serem servidos na sala, onde estavam todos os convidados. A baratinha só conseguiu sentir o cheirinho gostoso dos brigadeiros, dos cajuzinhos, do bolo, etc. Mas não desistiu, desceu da mesa e foi esgueirando-se sem ser vista até que chegou numa grande sala onde tinha todo tipo de gente.
         Ela ficou encantada com as roupas que as mulheres estavam usando, tinha cada vestido! Pareciam princesas. E as criancinhas? Umas fofas. Belinha adorava crianças, principalmente quando elas deixavam cair pedacinhos de doces no chão, e naquela festa tinha muitas crianças...
         Com muito cuidado, ela atravessou a sala e conseguiu esconder-se atrás de uma cadeira onde estava sentado um menino de mais ou menos uns dois anos, desses que comem deixando cair migalhas.”Era o paraíso!” Ela conseguiu comer bolo, docinhos... De repente, o menino a viu e levou um grande susto.
         Já era tarde quando dona Bela, a mãe de Belinha, apareceu na festa procurando a baratinha bisbilhoteira, tinha medo que sua filha fosse morta. Encontrou-a escondidinha atrás da cortina comendo um delicioso brigadeiro e antes que conseguisse dar uns puxões de orelha na filha, teve seu frágil corpinho esmagado pelo pé de um convidado descuidado que não olhou onde pisava. Morreu sem ver a cara do baraticida que havia lhe atingido mortalmente. A filha, assustada, correu para casa chorando.
         Por ter sido a culpada pela morte da mãe foi expulsa de casa pelos irmãos mais velhos, o pai não pôde fazer nada a seu favor, pois também já havia morrido, o bom e velho Sr. Barata teve sua vida ceifada por um veneno que encontrou num delicioso pedacinho de torta; agora ela teria que se arranjar sozinha no mundo. A baratinha não teve outra escolha, arrumou sua trouxinha e saiu de casa naquela mesma noite, estava abatida e arrependida, agora ela entendia tudo que sua mãe havia lhe falado a respeito dos perigos a que sempre estava exposta, mas já era tarde demais, aprendeu a lição da maneira mais dolorosa. Por causa de sua teimosia perdera sua mãe, sua casinha, a companhia de seus irmãos e, o que era pior, estava sozinha na rua numa noite fria. Depois de andar muito, Belinha encontrou uma caixa vazia jogada na sarjeta, acomodou-se lá e adormeceu ainda soluçando.
       Na manhã seguinte, antes mesmo de acordar, foi levada pelo varredor de rua e foi parar num lixão que era para onde eram levados todos os lixos da cidade, ela acordou e ficou surpresa com a imagem que viu à sua frente, tinha de tudo naquele lixo, desde resto de comida até pneus velhos, mesmo sendo uma barata, ela não quis ficar ali por muito tempo, o cheiro era insuportável, então saiu procurando um lugar melhor para morar.
         Não teve que andar muito para encontrar uma casinha nova. Encontrou um lugar limpinho, arejado e muito confortável, era uma casa de pessoas que faziam decoração para festas. Parecia que a sorte de Belinha estava mudando.
         Como era muito curiosa, foi entrando e olhando as peças usadas para enfeitar as mesas. Tinha vários personagens que ela conhecia, pois gostava de ficar assistindo televisão lá na casa onde morava. As crianças daquela casa assistiam muitos desenhos animados, lembrando dos momentos bons que vivera, chorou novamente. Mas secou as lágrimas e continuou a olhar pela casa para ver se encontrava um esconderijo para morar, finalmente encontrou uma fresta num circo feito de isopor, entrou e ficou ali, escondidinha, bem quietinha para não ser encontrada.
         Não demorou muito e uma senhora veio e levou o circo e mais algumas peças, Belinha pôde perceber que estava sendo levada para outra casa e ficou espiando pelo buraquinho a movimentação lá fora.
        Depois que tudo ficou sossegado, ela criou coragem e foi dar um espiadinha para ver o que é que estava acontecendo. Ao sair do esconderijo quase desmaiou ao ver que estava no meio de uma mesa de festa de aniversário. Voltou depressa ao circo onde se escondia e ficou lá até que ouviu a algazarra das crianças; então, saiu e foi à festa também como se fosse uma convidada especial. Comeu bolo, docinhos; tomou refrigerante. “Nossa! Que festa boa!” Ela ficou tão feliz que até esqueceu todas as tristezas que a acompanhava desde a morte da mãe.
         Agora, Belinha vive nessa nova casa e todos os finais de semana ela tem uma festa para ir. Já conheceu várias casas e muitas pessoas. Às vezes até se esquece que é uma barata de tão comportadinha que está ultimamente. Aprendeu a lição e só come os docinhos quando as pessoas vão embora e a festa acaba, não quer correr o risco de morrer e não poder mais aproveitar aquelas festas maravilhosas.

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