O FANTASMA - Conto
Dizem que tudo começou numa noite muito escura e chuvosa, havia um vento
frio, a rua estava deserta, ninguém se atreveu a sair de casa naquela noite,
exceto Marina que dizia não ter medo de fantasmas. “Essas coisas não existem,
não tenho medo dos mortos, os vivos é que são perigosos”. Dizia ela, sempre que
o assunto era fantasmas.
Decidida a comprar um vinho para acompanhá-la na solidão do seu quarto,
Marina foi, sem medo, à rua. Comprou seu vinho, olhou algumas vitrines e, como
já estava ficando tarde, resolveu ir para casa. Depois de caminhar duas
quadras, começou a chover, para chegar a casa mais rápido, decidiu que passar
em frente ao cemitério seria a melhor coisa a fazer. Então, caminhou sentindo a
garoa molhar suavemente seus cabelos, aos poucos, foi sentindo seu casaco mais
pesado, pois, àquela altura, chovia forte. Caminhou depressa pisando com força
nas poças que haviam se formado anteriormente, naquele dia havia chovido muito.
Passou em frente ao cemitério, para surpresa sua, sentiu um leve arrepio
ao perceber um vulto saindo da necrópole, caminhou ainda mais rápido quando
percebeu que estava sendo seguida, pensou logo em assalto e, literalmente,
correu. Entrou em casa ofegante, trancou a porta com a tranca de segurança, pôs
uma cadeira atrás da mesma, só por precaução, e foi tomar um gostoso banho
enquanto o vinho gelava.
Preparou a banheira com uma água bem quentinha e ficou lá relaxando,
para recuperar-se do susto. Naquela noite, estava sentindo-se diferente, não
sabia ao certo o que estava acontecendo, mas sentia uma sensação totalmente
desconhecida, seu corpo parecia pulsar e seu coração parecia querer saltar para
fora do seu corpo. Todo o tempo em que esteve morando sozinha nunca sentira
medo, mas naquela noite o inaceitável medo a acompanhava. Saiu da banheira tremendo, não sabia ao certo
se, de medo ou de frio. Vestiu-se depressa, pois tinha a estranha sensação de
estar sendo observada. Foi até a cozinha, preparou o jantar e arrumou a mesa
como de costume, mas, desta vez, parecia esperar por alguém. Jantou e tomou seu
vinho demoradamente.
Arrumou a cozinha, pois gostava de
deixar tudo em ordem antes de ir dormir, e foi para o quarto assistir TV. Ficou
ali, sem prestar muita atenção ao que passava no vídeo, sentia um torpor, uma
preguiça estranha. “Achou que tivesse tomado vinho demais.” Acabou pegando no sono. Naquela noite, o sono
de Marina não foi tranqüilo, teve um pesadelo assustador, parecia tão real que
ela podia sentir as sensações como se estivesse acordada. Sentiu um abraço
forte envolvendo seu corpo, sua boca entre aberta pôde receber um beijo
voluptuoso, podia sentir em seu corpo a firmeza das mãos macias a
acariciar-lhe, entregou-se total e liberalmente às carícias do amante onírico.
Este, suavemente a despiu, com beijos ávidos a deixou totalmente embriagada
pelo desejo, amaram-se ardentemente até chegar ao clímax da paixão.
Na manhã seguinte ao acordar, Marina empalideceu ao perceber sua
camisola jogada no chão, ainda sentia sua boca latejando devido aos fortes
beijos do sonho. “Sonho? Ou será que alguém entrou aqui?” Levantou-se,
vestiu-se depressa e foi verificar a porta; estava trancada. Olhou as janelas,
também estavam fechadas. Seu coração disparou, engoliu em seco, assustada.
Caminhou até ao banheiro, olhou-se no espelho e disse a si mesma: “Marina, foi
só um pesadelo”.
Naquele dia não conseguiu trabalhar direito, estava abatida, taciturna.
Não era a Marina de sempre, aquela Marina corajosa, alegre. No fim do dia foi
para casa sentindo-se muito cansada. Cumpriu todos os rituais de todas as
noites e foi dormir, não tomou vinho, queria estar lúcida se sonhasse
novamente. Logo adormeceu. Dormiu um bom tempo sem ter nenhum pesadelo, mas
pela madrugada começou a sonhar com um homem muito bonito que vinha para ela
sorrindo, sua pele macia, ao roçar em seu corpo causava-lhe arrepios, eram
arrepios de prazer. Desta vez ele estava mais carinhoso, seus beijos eram mais
suaves, demorados, calmos e apaixonantes. Suas mãos iam deslizando pelo corpo
seminu da indefesa amada. Trocaram carícias apaixonadas e amaram-se novamente.
Ao acordar, Marina constatou que seus sonhos não eram apenas sonhos.
Então, lembrou-se do vulto que a seguira desde o cemitério. “Tolice! Fantasmas
não existem!” Disse, descartando aquela idéia absurda. “Mas, se não era
fantasma, o que era aquilo?” Trabalhou o dia todo intrigada, não entendia
aquela situação e, o que era pior, estava começando a gostar daqueles sonhos.
Passou-se uma semana, um mês, os sonhos continuavam. Ela, então,
resolveu procurar um psicólogo, as terapias não resolveram, os sonhos pareciam
cada vez mais reais. Agora, saía do trabalho e corria para casa, ansiosa,
esperava a noite chegar para receber seu amante que já era, também, amado. E
sonhava...
Atualmente, Marina já não tem mais certeza se existe ou não fantasmas.
Mas corre à casa todas as noites para esperar seu amante invisível.
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