MANUEL MANDUCAIA (Crônica)

         Manoel Manducáia era um caboclo que trabalhava na fazenda de Bento Guilhermano, nascera ali e ali crescera sem nunca ter saído dali. As poucas letras que aprendera fora dona Lurdes, mãe de Bento, que havia ensinado. Ela tinha uma afeição especial pelo moleque e fazia de tudo para que ele ficasse perto da casa grande.
         Manoel cresceu e tornou-se o braço direito de Bentinho, seu amigo de infância e agora patrão. Sempre que viajava, Guilhermano convidava o amigo capataz para ir com ele, porém Manducáia fugia da cidade como o diabo da cruz. Para ir à cidade teria que vestir roupas apertadas e sapato, gostava mais de ficar descalço e sentir a força da terra sob seus pés.
         De volta de uma dessas viagens, Bento trouxera um canivete e um cachimbo com o nome de Manducáia gravado. A princípio, os presentes ficaram guardados como verdadeiras relíquias, mas por insistência de Bento, o velho caboclo começou a usá-los e a exibi-los para que todos pudessem apreciá-los.
         Numa tarde em que o céu prometia chuva, Manducáia foi ajuntar a boiada que pastava longe de casa. Foi com o moleque Miguel, seu neto, que não desgrudava dele, saíram muito alegres cantarolando uma música sertaneja. De súbito, o vento começou a ficar bravo e as nuvens corriam com uma rapidez incrível tapando o céu, fazendo o dia virar noite, Miguel tocava o berrante com força e a boiada o seguia. Iam pela estrada, já quase chegando à fazenda, quando um raio despencou do céu atingindo o cavalo em que Miguel montava jogando-o longe.
         Na correria para salvar o neto, Manducáia perdera seu canivete e seu cachimbo, o menino, com a graça de Deus, não se feriu, já o cavalo, morreu. Manducáia levou o neto para casa deixando-o aos cuidados da mãe e voltou para acomodar o gado no curral, terminou a tarefa já debaixo de chuva, correu para casa, foi aí que dera por falta de suas relíquias. Elas foram encontradas por Sílvio Ferreira no dia seguinte quando fora apanhar barro para tapar os buracos de sua casa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

DICIONÁRIO CAMPISTÊS - De Campos dos Goytacazes

MESTRA DE MIM MESMA

SER POETA