GATO NO TELHADO (Crônica)


         Maria Tereza era uma senhora respeitável que morava na minha rua, era uma dessas senhoras que num primeiro olhar pode-se dizer: “É uma santa”. Tinha ficado viúva quando as crianças ainda eram pequenas, agora seus filhos já estavam casados e ela morava com uma moça que lhe servia de companhia e cuidava da casa. Era uma solteirona que Maria Tereza dizia ser seu braço direito, ela era muito caprichosa e dedicada ao serviço doméstico, trabalhava naquela casa desde quando Tereza casou-se com o finado João Hipólito, isso foi a trinta e cinco anos. Era a tia Bentinha dos filhos de Tereza.

         Quando o Sr. Hipólito morreu, Tereza ficou numa situação financeira precária e a fiel Benedita esteve com ela todo o tempo, ajudando até mesmo financeiramente, pois guardara numa poupança as economias que conseguira juntar até então. Tempos difíceis viveram aquelas mulheres, mas as duas uniram-se e criaram as crianças, Tereza não se casou novamente e Bentinha nunca pensou em casar-se, estava feliz ali e ali queria continuar. Agora viviam sossegadamente na velha casa, eram visitadas periodicamente pelas “crianças” que moravam em outra cidade.

         Em seu último aniversário, Tereza recebeu a visita de todos os filhos, netos e seus respectivos namorados e namoradas, a casa estava cheia, não somente de pessoas, mas de alegria também. O dia estava quente e prometia chuva, dessas típicas de verão, que tiravam o sossego da matriarca da família. Os filhos não entendiam por que a mãe tinha tanto medo de chuva.

         No final da tarde o tempo estava abafado e o céu começava a escurecer, estavam todos sentados na grande varanda jogando conversa fora quando, de repente, a tempestade chegou trazendo um vento forte que assobiava e derrubava tudo que estava no seu caminho. As árvores tiveram seus galhos revirados, despenteando a cabeleira verdejante, os pássaros se esconderam depressa e as pessoas nas ruas saíram desesperadas à procura de abrigo, Maria Tereza e sua família correram para dentro, fecharam as janelas e portas que batiam estremecendo as velhas paredes. O vento açoitava as plantas, carregava papéis, derrubava os vasinhos de violetas que Bentinha cultivava; esta, sentada na sala rezava e pedia a Santa Bárbara que abrandasse aquela tempestade.

         De repente, ouviu-se um estrondo pavoroso, Maria Tereza empalideceu, o telhado havia sido arrancado pelo vento e a chuva já começava a encharcar o velho forro de madeira. Correram, então, para outro cômodo da casa, onde estariam mais seguros. Não demorou muito e o forro da sala veio a baixo, a velha Tereza entrou em pânico e começou a falar do gato no telhado, os filhos perguntavam: “Desde quando a mamãe tem um gato? Onde ele está que não o vimos desde que chegamos?” A mãe não respondia, estava preocupada demais. “E se descobrirem o gato? Certamente terei que pagar alguma multa, ai, meu Deus!”

         O vento destelhou toda a casa, quando a chuva passou os filhos e os genros de Tereza foram verificar os estragos, procuraram o tal gato e nada de encontrar o danado do bichano. ”Talvez o vento o tenha lavado!” “Ou, então, ele se escondeu em outro lugar”.

         Maria Tereza olhava para sua fiel escudeira sem saber o que dizer. Nesse momento, Bentinha resolveu dizer a verdade e, olhando para o chão como se procurasse algo, disse que se tratava de um gato elétrico, de uma ligação clandestina feita logo depois da morte do velho Hipólito, quando as vacas ficaram magras, o que causou uma profusão de risos deixando a pudica Maria Tereza muito encabulada.       

 

 

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