AMOR DE CLASSIFICADOS
Os classificados de um jornal traziam o seguinte anúncio: "moreno
alto, olhos castanhos, cabelos também castanhos, 44anos, viúvo sem filhos, boa
condição financeira, procura moça para relacionamento duradouro, falar com João
Pedro” O anúncio trazia ainda o telefone para contato, caso alguém se
interessasse.
A princípio, não dei muita importância àquilo, era apenas mais um
anúncio. No dia seguinte, os classificados traziam-no novamente, e isso durou
uma semana inteira, comecei a me interessar pela insistência do rapaz que
desejava tanto uma namorada. Ele deve ser feio, isso sim, pensei com meus
botões.
Guardei os recortes da semana toda e, da seguinte também, não sei por
que, mas guardei. Mostrei os recortes para minha amiga e ela teve uma idéia.
“Vamos ligar e fingir interesse.” Relutei muito, pois brincar com os
sentimentos das pessoas nunca foi meu forte, mas por diversão acabei entrando
na brincadeira.
Minha amiga falou com ele ao telefone, mal podíamos conter o riso, pude
ouvir sua voz grave do outro lado da linha, era bonita e agradável. Ele quis
marcar um encontro, ficamos com medo e desligamos o telefone.
À noite, sozinha, liguei novamente, uma mulher atendeu, congelei, não
consegui pronunciar um A, desliguei. Depois de algum tempo, liguei novamente,
dessa vez ele atendeu, eu não sabia o que dizer. Então ele disse por mim:
― Alô, Gostaria de falar com quem?
Gaguejando, respondi que gostaria de falar com João Pedro. ”É ele, pode
falar”. Iniciamos uma conversa tímida, mas que se prolongou por um bom tempo,
ele era muito observador e disse que minha voz estava diferente, que agora
estava mais suave, mais delicada, mal sabia ele que havia falado com minha
amiga. Despedimos-nos, antes, porém, prometi que voltaria a ligar.
Não fiz nenhum comentário à minha amiga a esse respeito, continuei a
ligar para ele todas as noites e descobri que a mulher que atendera meu
primeiro telefonema era sua mãe, ele tinha um bom papo, muito envolvente
prendia-me ao telefone, depois de um mês de conversação parecíamos velhos
conhecidos, se eu não ligasse, ele ligava para mim.
Contudo, ainda faltava-me coragem para marcar um encontro. Em nossa
última conversa, apesar de muita insistência de sua parte, eu ainda disse não.
Saí de casa mais cedo, a caminho do trabalho passei no hospital para
marcar uma consulta com um ortopedista. A recepcionista marcou a consulta para
o final da tarde, fui trabalhar, sequer olhei o nome do médico. No fim do dia
lá estava eu em frente ao consultório do Dr. João Pedro. “João Pedro. Será ele?
Não pode ser.”
Aguardei minha vez com grande aflição. Entrei no consultório, minhas
mãos transpiravam, meu corpo inteiro estremeceu ao ouvir a voz do médico. Era
ele, sem dúvida, era ele! A consulta transcorreu normalmente, no entanto ao
entregar-me o pedido do exame, perguntou-me à queima roupa:
― Você veio realmente pela consulta, ou tem algo a me dizer?
― Na verdade eu gostaria de saber se o senhor é mesmo quem eu penso que
é. Acho que minha consulta foi uma maravilhosa coincidência.
Então, ele me sorriu confirmando minhas suspeitas. Era ele mesmo!
Estávamos nervosos, mas parecia que nos conhecíamos há muito tempo...
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